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A população que sofre

Por Beatriz Irineu, Laís Maia e Victoria Crisostomo

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Terminal da Parangaba. Foto: Lucas Plutarcho

Uma enquete aplicada, entre os dias 20 e 29 de outubro de 2019, com amostragem de 202 pessoas, 59,9% dos passageiros têm dificuldades para colocar crédito no cartão. A técnica de saúde bucal Ranyele Marinho, 25, já enfrentou problemas para recarregar o passe. 

 

“Ocorreu um episódio em que fiz a recarga no posto de gasolina próximo a minha casa, na José Bastos. Quando fui passar no ônibus, não tinha entrado ainda. O motorista disse que eu tinha que esperar duas horas para ‘cair’ o crédito. Tive que esperar uma topique, pois ainda aceita dinheiro. Só fui receber a recarga quando eu estava voltando do trabalho”, relata a técnica. 

 

Devido ao aumento do serviço de autoatendimento do transporte público, as práticas de pular a catraca sem pagar a tarifa e venda de transporte eletrônico dentro coletivo se tornaram frequentes na capital. O ato de pular a catraca sem pagar a tarifa do transporte coletivo é crime e está previsto no artigo 176 do Código Penal, de acordo com o Decreto Lei 2848/40. A venda de vale transporte eletrônico dentro do ônibus também é proibida segundo o artigo 5º Lei Nº 7.418/85. 

 

A.D*, passageiro da linha 074 (Antônio Bezerra/Unifor), acredita que o serviço não é benéfico, visto que não possui nenhuma espécie de cartão. Ele admite que, em casos de não conseguir comprar a passagem, acaba cometendo a infração de pular a catraca. S.C., passageira da linha 075 (Campus do Pici/Unifor), conta que já deixou seu cartão em casa e precisou pagar R$ 4,00 a outra pessoa por uma passagem de ônibus (a tarifa inteira em Fortaleza é R$ 3,60).

 

*A identidade do passageiro foi resguardada. 

“As pessoas não estão sendo convencidas de fazer um cartão por considerar algo bom ou porque vão ter alguma vantagem, mas, na verdade, elas estão fazendo porque não querem mais passar por humilhações ou se atrasarem para os seus compromissos, estão sendo penalizadas mesmo possuindo dinheiro para pagar a passagem”

Larissa Gaspar, vereadora do Partido dos Trabalhadores (PT), destaca movimento Só Cartão Não na Câmara dos Vereadores de Fortaleza.

(Foto: Reprodução)

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Segundo o Sindiônibus, os motoristas estão sendo treinados para buscar uma solução e não deixarem de transportar uma pessoa que não possua bilhete eletrônico dentro do coletivo urbano. O estudante de jornalismo, Everton Lacerda, passou por uma situação constrangedora ao ser despejado do ônibus na saída do Terminal do Papicu. Lacerda não possuía créditos na sua carteira de estudante e estava dentro de um veículo de autoatendimento.

 

“Ao chegar no Terminal do Papicu, o motorista da linha não deixou eu e mais duas pessoas descermos dentro do terminal para pagar a passagem. Disse que nos deixaria fora para entrarmos novamente e assim foi feito. Fomos despejados do lado de fora do terminal, na saída exclusiva de ônibus da Rua Pereira de Miranda, logo atrás vinha um ônibus em alta velocidade. Me senti em perigo e desrespeitado, maltratado por um serviço que eu estou pagando”, conta. 

 

A vereadora Larissa Gaspar orienta quais providências devem ser tomadas em casos de constrangimento no transporte público. “É importante que as pessoas possam registrar um Boletim de Ocorrência informando que foram obrigadas a descer do ônibus, porque não tinham cartão, mas  dinheiro para pagar a passagem, relatando os prejuízos que elas tiveram. Além de entrar com um procedimento na Defensoria Pública exigindo a reparação do dano sofrido”, declara. 

 

Gaspar conclui que as pessoas estão fazendo o cartão para acessar o transporte público para evitar constrangimentos. “As pessoas não estão sendo convencidas de fazer um cartão por considerar algo bom ou porque vão ter alguma vantagem, mas, na verdade, elas estão fazendo porque não querem mais passar por humilhações ou se atrasarem para os seus compromissos, estão sendo penalizadas mesmo possuindo dinheiro para pagar a passagem”.

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O vice-presidente da Etufor, Antônio Ferreira, esclarece que o autoatendimento surge para garantir a segurança da população, coloca principalmente  os usuários e os operadores. No entanto, a espera por um veículo sem o sistema, acarreta a permanência por horas na parada de ônibus. Os dados da enquete realizada apontam que 77,2% dos passageiros já passaram por alguma situação de risco ao esperar o ônibus.

 

Ferreira defende que o projeto surge para garantir a segurança dos passageiros e operadores dentro do transporte coletivo. Ele ainda relata que a média de veículos assaltados por dia era aproximadamente oito. “Depois que implantamos o projeto piloto, tivemos ‘zero assaltos’ nas linhas de autoatendimento”, comenta. 

 

Os usuários discordam da avaliação, denunciando que a insegurança persiste  nas paradas de ônibus. A técnica bucal Ranyele Marinho afirma nunca ter passado por uma situação de risco ao esperar, mas conhece lugares que são perigosos, principalmente para aqueles que esperam ônibus com cobrador. 

 

“Na parada do Centro de Eventos, todo mundo se sente inseguro por conta da violência. Ali é muito esquisito, não tem nenhum policiamento próximo e os guardas do Centro de Eventos ficam do lado de dentro. Caso aconteça alguma coisa, eles não interferem”, diz. 

31,5% esperam mais de 45 minutos e 28,6% esperam mais de 30 minutos. 

Em enquete realizada pela reportagem, quase 60% da amostragem passa mais de meia hora esperando o ônibus que aceite dinheiro.

Em enquete realizada pela reportagem, quase 60% da amostragem passa mais de meia hora esperando o ônibus que aceite dinheiro.

Esse número representa mais de 150 pessoas da amostragem total.

Na mesma enquete, mais de 77,2% já passou por alguma situação de risco ao esperar o ônibus na parada. 

Para as pessoas que não portam algum tipo de cartão, o tempo estimado de espera pode ser bastante longo.  A enquete constatou ainda que 31,5% esperam mais de 45 minutos e 28,6% esperam mais de 30 minutos. 

O vereador Guilherme Sampaio atenta para a situação das pessoas que moram no interior e não dispõem de cartões. Estão sujeitas a essa situação de perigo  ao esperar ônibus tarde da noite, atenta.

Confira um pouco do que acontece na Linha 074 - Antônio Bezerra/Unifor
Confira o depoimento completo da técnica bucal Ranyele Marinho
O cartão e a população
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