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Mobilidade para quem?

Por Beatriz Irineu 

O sistema de autoatendimento possui aspectos positivos e negativos a longo prazo para a mobilidade urbana da cidade. Para o professor de Arquitetura da área de planejamento urbano e gerente de transporte e integração do MetroFor, André Lopes, a solução para resolver o problema de mobilidade em Fortaleza não é o aumento da frota de ônibus e, muito menos, a exclusividade do sistema.  Lopes propõe a criação de mais meios de transportes público, além da melhoria do controle de território. 

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Pergunta: Quais são as alternativas para resolver os problemas do autoatendimento em Fortaleza?

André Lopes: Manter o sistema de autoatendimento como opcional. Uma vez que ele gera benefício ao usuário, a população irá aos poucos aderir ao sistema. O sistema pode ser ampliado para aceitar outros tipos de cartão ou pagamento. Pagamentos com celular, com cartões de crédito e débito ou por aplicativo, além do dinheiro. Pela lei, [o dinheiro] não pode ser negado como forma de pagamento.

Pergunta: Então, qual é a melhor solução? 

AL: A saída ideal para garantir agilidade, segurança e facilidade, seria a adoção de mini estações fechadas de embarque (similar às de BRT, no entanto que gerassem menores impactos no espaço dos passeios e calçadas) com pagamento interno. Isso diminuiria o tempo necessário para o embarque, facilita o pagamento antecipado e garante segurança. A Prefeitura poderia se comprometer em adotar a solução do metrô (em parceria com o governo do estado) como sistema prioritário.

 

P: O aumento no número de veículos seria a solução?

AL: O aumento do número de veículos não teria qualquer efeito sobre os problemas de crédito, ou sobre o processo segregacionista que o autoatendimento causa. A quantificação de veículos segue uma lógica de oferta e demanda associada ao desempenho da rede. Nem sempre o aumento do número de veículos gera melhoria do desempenho do sistema. Há, no entanto, um problema de lentidão e perda de tempo no trânsito, no qual os usuários de ônibus são os que mais sofrem.

P: Quais são as outras alternativas possíveis que a população pode fazer? 

AL: Uma boa solução, a longo prazo, para este problema seria a diminuição do número de veículos privados. Se aumentarmos a demanda por ônibus e outros transportes coletivos públicos, o sistema se torna financeiramente mais atraente. Os usuários de maior renda ajudariam na demanda por serviços mais eficientes (pontuais, limpos, seguros) e a tarifa teria folga para ser reduzida.

P: Como a maneira que o espaço urbano está disposto interfere na mobilidade?

AL: Outra solução importante e indispensável surge a partir de um controle melhorado do território. Hoje, as pessoas que são usuários do transporte público são também expulsas pelo mercado imobiliário para as periferias da cidade [divergência no preço de moradia entre regionais]. Isso gera trajetos muito longos, muitas vezes maior que 90 min de viagem, entre casa e trabalho para a maioria da população. Isso afeta com mais força populações pobres e moradoras do lado Sudoeste da cidade. Esta responsabilidade é da Prefeitura Municipal, no entanto, ela se exclui desta atividade ao reforçar a lógica de mercantilização das terras urbanas, a concentração de empregos nas áreas centrais e políticas de expansão da área da cidade. 

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